Como uma seta que é lançada é um romance ficcional obscuro, cuja trama tem lugar na Espanha do século XVII. Conta a história de Eva, uma bonita menina que tem o sonho ambicioso de matar a mãe, com quem vive uma relação fria e desprendida. A maldade da protagonista é-lhe marcada no corpo, de forma acentuada, ao longo dos anos. Encontrando alguma felicidade a trabalhar na morgue do seu pressuposto pai e aprendendo o ofício de tratar dos cadáveres, a nossa anti-heroína ganha um fascínio por aquilo que faz, dedicando-se afincadamente a essa arte. Fascinada pelas hipóteses rebuscadas que a sua mente lhe concebe, começa a fazer experiências com cadáveres. À medida que vai acumulando vítimas, a sua beleza torna-se cada vez mais sublime. Esta personagem clandestina tenta encontrar-se e ser feliz, também a nível sexual, e, nessa demanda gorada, comete crimes hediondos. Mais do que ver em Eva somente um monstro ignóbil, o leitor sente compaixão por aquele ser transgressor que não se encaixa na sociedade. Eva, arriscamos dizê-lo, é uma daquelas personagens impossíveis de esquecer. 

Este romance é, igualmente, uma crítica mordaz à Igreja e à Inquisição, questionando o poder do amor, através de um narrador francamente interventivo e polifónico.